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Coisa nossa > Tipicamente brasileira

O seu grande desafio é a exportação, que representa menos de 1% da produção do país. “Produzimos 1,3 bilhão de litros e exportamos apenas 11,3 milhões de litros”, afirma a presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça, Maria das Vitórias Cavalcanti. A pinga Pirassununga 51, que tem 50% do mercado interno e no mercado internacional é o quinto destilado mais consumido no mundo, é produzida por 40 alambiques de usineiros independentes da região de Pirassununga. A bebida é misturada e retificada na usina central da 51, onde recebe um xarope para dar sabor de cana e água para reduzir o teor alcoólico. É um sucesso, “uma boa idéia”, mas é uma aguardente de cana, produzida industrialmente em torres de destilação, fora dos limites que orientam a produção artesanal, da cachaça, feita em alambiques de cobre. Esse é o caso da Rochinha, Armazém Vieira e também o da Leblon.

Em Patos de Minas, a cana é colhida manualmente e, em seguida, prensada. Uma prensa suave, “pois somente a prensa suave preserva as características vegetais mais nobres da cana”, diz Gilles. A garapa é armazenada em tonéis de aço, onde é fermentada. É destilada em alambiques de cobre, apenas uma vez, “garantindo o aroma original da cana”. O melhor desse caldo é envelhecido em barricas de carvalho francês anteriormente utilizadas com o conhaque (tal como é feito com o uísque, em que são utilizados barris que já guardaram Jerez e Bourbon).

Eu faço fé nos santos de casa. Eles estão ganhando terreno não por milagre: fazem um trabalho sério, utilizam técnicas modernas e guardam um grande respeito pela arte e história de anônimos destiladores de nossa pinga

A Leblon ainda vai passar por tripla filtragem orgânica para ser, por fim, engarrafada em vidro da Normandia, coisa finíssima. Não é à toa que faz sucesso em Paris, Londres e em 10 mil pontos de venda nos 51 estados americanos. Só não chegou aqui antes por temor da grande concorrência de branquinhas entre nós. Mas agora vão tentar fazer a diferença.

Antes engarrafada lá fora, esse processo será feito agora aqui, o que será ótimo para reduzir as pegadas de carbono. Seu preço, parece, será de R$ 65,00. Pode parecer salgado, mas está abaixo de grande número de cachaças muito mais caras – não sei se justificadamente.

Continuo animada, pois não preciso mais de viajantes para repor meu estoque, pelo menos o da Leblon. Mas vai ser complicado conversar com o Gilles agora no dia 3, na Academia da Cachaça, no Rio. Estou atolada de compromissos, infelizmente. Mas deixo um abraço e a admiração pelo o que Steve, Stoll e o grande Gilles estão fazendo pela bebida da casa.

A Leblon, a Armazém Vieira e a Rochinha (e tenho certeza que outras, que ainda não conheci ou esqueci-me de mencionar) vão dar muito trabalho a destilados famosos e globalizados. Eu faço fé nos santos de casa. Eles estão ganhando terreno não por milagre: fazem um trabalho sério, utilizam técnicas modernas e guardam um grande respeito pela arte e história de anônimos destiladores de nossa pinga, contada e provada ao longo de pelo menos 400 anos.

A amiga acredita que santo de casa possa fazer milagre, ainda tem preconceitos com relação à cachaça? E sobre a caipirinha? Dê uma para o santo e depois escreva aqui para o Bolsa ou para a Soninha, via [email protected]