Cachaça chique

por | jun 30, 2016 | Receitas

“Uma mulher pode ficar charmosa bebendo cachaça”. A frase foi dita por um jornalista carioca ao terminar de fazer uma reportagem com a cachacière Fernanda Nepomuceno. Sim, cachacière (ou cachacier para os homens). É o novo termo usado para o conhecido “Mestre de Cachaça”, o especialista desta bebida tipicamente brasileira. Já faz tempo que a cachaça saiu da marginalidade e dos pés-sujos para ganhar as mesas dos eventos e restaurantes mais sofisticados. E, pasmem, a bebida está ganhando cada vez mais apreciadoras.

A jornalista mineira Vanessa Oliveira, 24 anos, é uma delas. O fato de ter nascido em Minas Gerais já ajuda muito. É no estado que são produzidas as melhores cachaças do país e o costume de degustar começa cedo. “Aprendi a tomar cachaça em casa, com a minha mãe”, conta. Ela hoje mora no Rio de Janeiro, mas os amigos não estranham o fato de uma mulher pedir uma cachaça num bar. Aliás, está cada vez mais comum encontrar rodinhas de amigas em cachaçarias nas grandes cidades. “Virou estilo porque a cachaça desce redonda”, explica Fernanda Nepomuceno, que chegou a criar camisetas com a frase “Eu tenho estilo, eu bebo cachaça” para distribuir às amigas degustadoras.

O assunto tem ficado bem sério. Clubes, grupos e confrarias de cachaça têm se espalhado pelos grandes centros urbanos. Modismo? Elas garantem que não. “Não é moda, pois se trata de uma bebida antiga, típica do nosso país e muito barata. Modismo é sair por aí tentando pronunciar nomes complicados de vinhos e fazendo biquinho para falar Cabernet Sauvignon”, critica a designer Úrsula Toledo, 32 anos, degustadora há cinco anos e habitué de cachaçarias como o Mangue Seco e a Academia da Cachaça, ambas no Rio de Janeiro.
Assim como o vinho, para conhecer a bebida é preciso estudar e degustar muito para conhecer as várias marcas de cachaça que existem no país. Existem muitos exemplares da bebida espalhados por aí, mas se é para degustar, que seja de um bom exemplar da bebida.

Cachaça boa não dá ressaca, nem dor de cabeça. Você só se sente mal se optar por beber muito e não apreciá-la

Mas, afinal, o que é uma boa cachaça? De acordo com Fernanda, uma boa cachaça tem que ser feita em alambique. Mas isso não é o suficiente. A maneira como a bebida é retirada do aparelho faz toda a diferença. Segundo ela, a melhor parte é o meio do alambique, chamada de corpo ou coração da cachaça. O início e o fim não servem, ou por conter álcool em demasia, ou por manter restos da fibra da cana-de-açúcar. “Essas partes fazem muito mal à saúde. Uma dica é olhar para a cachaça contra a luz. Uma de boa qualidade não tem nenhum resíduo e você não vê nada boiando”, afirma.

A cachacière também se queixa da industrialização. Segundo ela, uma cachaça tem que “descansar”, no mínimo, um ano e meio a dois anos para depois ser retirada do alambique. Com a demanda, principalmente da exportação, esse tempo fica inviável e a bebida perde em qualidade. O resultado? Muita dor de cabeça para os consumidores. “Cachaça boa não dá ressaca, nem dor de cabeça.Você só se sente mal se optar por beber muito e não apreciá-la”, garante Fernanda. Mas, se entre um gole e outro você exagerar na dose, vale a receitinha da jornalista Vanessa Oliveira: chá de boldo. Mas só tem efeito se for feito da folha.